Algumas horas em dois dias de agosto que eternizaram um legado e deixaram um convite para você
Completou um ano do dia 12 de agosto de 2014. A ansiedade chegou ao ápice, pois era a primeira vez em que Eduardo Campos estaria na TV em rede nacional – Era o entrevistado da noite na bancada do Jornal Nacional.
O clima misturado por alegria, nervosismo e confiança foi tomando conta do Comitê de Campanha. Com um ambiente totalmente positivo, o trabalho fluía com o vento que transmitia aos quatro cantos do Brasil, a nossa mensagem de não desanimar e esse mesmo vento voltava com mensagens de apoio, de fé que o Brasil têm jeito e que a cada dia o povo confiava em nossa proposta por um Brasil melhor para todos.
Depois de um ano de viagens, preparação do programa de governo, muitos beijos, abraços e muito carinho a cada abertura de porta. Aquela noite seria um marco, pois o nosso candidato entraria na casa da maioria dos brasileiros, e assim, poderiam ter a oportunidade de conhecer Eduardo Campos.
O apresentador Willian Bonner soltou o famoso: “Boa noite!” E emendou: “o Jornal Nacional dá sequência hoje à série de entrevistas com os principais candidatos à presidência…” – Patrícia Poeta continuou: “o sorteio acompanhado por assessores dos partidos determinou pra hoje a presença do candidato do PSB, Eduardo Campos. Boa noite candidato!” Eduardo – então, seguiu: “Boa noite Patrícia! Boa noite Bonner! Boa noite a todos que estão nos assistindo!”
Ali foram os 15 minutos mais felizes que vivi nos últimos tempos. Pois a entrevista foi magnífica e a nossa primeira avaliação começou com uma salva de palmas. Senti-me numa comemoração de ano novo ao lado de boas companhias. A emoção tomou conta de todos, foram sequênciais abraços e sorrisos que não precisaram do som das palavras para expressar tamanha alegria.
Automaticamente o retorno do povo confirmou e a imprensa repercutiu positivamente. Naquela noite, Eduardo Campos era o segundo nome mais falado em todo o mundo. Posso afirmar que, de fato, a campanha havia começado.
Depois de sua participação no JN, a vice-candidata Marina Silva entrou no canal de internet da TV 40 para responder questões dos internautas. Eduardo Campos saiu do Projac e foi até o local em que Marina estava. Chegou de surpresa e também respondeu às questões dos brasileiros.
Muitas perguntas foram enviadas, mas a maioria eram mensagens parabenizando a participação de Eduardo Campos na entrevista concedida ao Jornal Nacional.
Depois da transmissão da TV 40, Eduardo fez questão de falar à nossa equipe – parabenizou, agradeceu o trabalho de todos e avisou: só está começando!
Após essas palavras, a energia de mais de 15 horas de trabalho foi reforçada para produzirmos os relatórios do dia e prolongarmos por mais algumas horas. Quando resolvemos parar os trabalhos naquele dia, o relógio já registrava 3 horas da manhã. Foi quando o coordenador me chamou e disse para eu chegar um pouco mais tarde, que o dia foi puxado.
Saí de lá numa alegria que senti vontade de ligar pra todo mundo e contar tudo de bom que eu estava acontecendo.
Ao chegar em casa, não conseguia dormir, fui trocar ideias com os internautas que compartilhavam da nossa proposta e quando percebi, o sol já estava sorrindo.
Cheguei ao Comitê por volta de 9h30m, subi ao 1º andar, abri a porta da sala em que eu trabalhava, observei que alguns já haviam chegado, coloquei minha mochila sob a cadeira e quando iria cumprimentá-los, eis que entra uma colega de trabalho da assessoria de imprensa e gritando ela diz: Gente, um jornalista da TV quer confirmar se o avião do Eduardo caiu em Santos?”- Todos ficaram se olhando e a expressão era de susto. Pensei que poderia ser mais uma mentira, como tantas que tivemos que desmentir por muitas vezes.
Ligamos a TV e a informação transmitida era de que havia caído um helicóptero em Santos. Sabendo que o transporte de Eduardo era um jatinho – tentei ficar mais tranqüilo. Mas na busca da certeza de que estava tudo bem, subi ao 2º andar e conversei com Paula, a responsável por organizar a agenda de Eduardo. Pedi a ela que entrasse em contato com a equipe para saber se estava tudo bem. Foi então que ela ligou para o Rodrigo (assessor direto), que atendeu e disse: Paula, está corrido aqui. Te ligo já! – Foi um alívio quando Paula disse que havia falado com ele.
Passados alguns momentos, Rodrigo retornou a ligação e Paula disse que queria saber se estava tudo bem. Ele respondeu: Eduardo me dispensou pela primeira vez da agenda para eu descansar. Acabei voltando do Rio de Janeiro com Renata e o Miguel (esposa e filho recém-nascido) para Recife. Devo passar uns dois dias por aqui. Está tudo bem Paula? Foi aí que ela falou sobre a queda de uma aeronave em que a TV noticiava que era um helicóptero. Então, Paula tentou contato com toda a equipe e as ligações emitiam diretamente apenas o som da caixa postal.
Quando ela desceu ao 1º andar e transmitiu essa informação, o silêncio de uma possível tragédia começou a ganhar espaço.
A agenda na cidade de Santos estava confirmada para 9h30m e um pouco de atraso era comum. Mas já eram 10 horas e nenhum contato. Foi então que falamos com a assessoria da Aeronáutica para confirmar o prefixo da aeronave que havia caído em Santos. Para a tristeza geral, a identificação correspondeu. Mas a FÉ nunca acaba e muitos, assim como eu, acreditavam que poderia ser um erro e que no final estaria tudo bem.
Aos poucos, as lágrimas de alegria do dia anterior deram espaço para choros de tristeza. Os que conseguiam segurar a comoção em público, apenas seguiam em direção aos demais para abraçar e receber abraços. Eu apenas procurei uma sala isolada e chorei igual a uma criança que perdeu um parente próximo. Pois quando chegava à sala mais movimentada do Comitê, procurava consolar os mais desamparados.
A informação verídica da tragédia demorou cerca de 3 horas para sair na imprensa. Pois o sensacionalismo tomou conta e nesse período ainda noticiaram a morte de outras pessoas que não estavam no jatinho, como: a esposa Renata, Miguel – o filho caçula, bem como da vice-candidata Marina Silva.
Após informação noticiada, comecei a receber ligações e mensagens de carinho de muita gente e agradeço aqui mais uma vez por todas.
Mas sempre digo que em todas as esferas da sociedade há profissionais que amam o que fazem e apenas os que estão lá por comodismo e medo de enfrentar desafios propostos pela vida. Em meio a tanto choro, alguns me ligavam e em busca de alguma informação nem se solidarizavam com o acontecido.
O cara foi direto: “Sou fulano de tal, sou do jornal X e gostaria de saber se agora com a morte de Eduardo Campos, Marina será candidata?”
Eu ainda tonto com tudo que acontecia, não acreditei no que acabara de ouvir e questionei: quem ele era e representante de qual jornal? Depois de ouvir a confirmação, perguntei a ele se antes dele ser jornalista, ele era ser humano? Em seguida, encerrei a ligação.
Mãe é mãe! Lembro que a minha me ligou e tentou me acalmar, mas espontaneamente ela disse: ainda bem que você não estava naquele avião. Eu apenas engoli o choro e respondi: mãe, se eu estivesse naquele vôo, morreria feliz. Pois estou lutando por um Brasil que acredito. – Ela, entendendo a minha posição, apenas concordou através de um “eu sei”. Nos despedimos e comecei lembrar de tudo…
Foi então que começou a passar um filme em minha mente dos momentos que vivemos na campanha. Nos encontros da agenda cheia e disputada, na apresentação dos candidatos estaduais e federais, nas coletivas de imprensa realizadas no Comitê, na sinceridade dos discursos… Mas o que marcou foi o nosso último encontro – Um domingo, o dia da gravação do primeiro programa de TV, realizado num galpão no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Durante o intervalo eu tive a oportunidade de falar com o nosso candidato e pedi para ele ter cuidado, pois ele representava tudo que os homens e mulheres de bem desse Brasil queriam falar e ele era o nosso porta-voz. Isso foi logo depois que ele disse que iria colocar as velhas raposas da política brasileira na oposição. Falei que mais do que ninguém ele sabia como era a prática da traiçoeira política. Mas troquei de assunto e disse que iríamos viajar muito e que pediam a presença dele em todo o país, desde as vilas até as grandes cidades. Ainda complementei que eu já havia investigado toda a vida pública dele na gestão de Pernambuco e que ele poderia confiar, assim como ganhou minha confiança – pois ele sim era a esperança para mudar o Brasil. Nossa despedida foi num forte abraço, ele continuou as gravações e eu segui meu caminho.
Depois de tudo isso e de todos os acontecimentos após a tragédia o que fica marcado é que a política é suja. Isso não é novidade! Mas só vamos limpar essa sujeira e mudarmos o Brasil para melhor, se você não assistir a tudo e deixar de participar desse processo de transformação. Vamos seguir o exemplo de pessoas de bem que querem deixar um legado para as próximas gerações. Entre e faça a parte da mudança que tanto queremos.
É certo que ninguém é o Salvador da Pátria. Juntos, somos mais fortes. Não cruze os braços diante de tanta corrupção. Não comemore a crise causada pelos gestores que administram o País. Não seja mais um que assiste a tudo e acha que nada pode mudar. Vamos mudar os gestores e participarmos mais das decisões.
Há pessoas de bom coração em todos os partidos. Unir os bons para seguirmos num projeto de um Brasil melhor para todos – Esse foi o grande legado de Eduardo Campos.
Esse texto foi apenas um resumo do que vivi durante a campanha e quero concluir com a última mensagem de Eduardo Campos para o Brasil.
“Eu queria ter a oportunidade de falar com você de todo o Brasil. Eu governei o estado de Pernambuco por duas vezes. Fui reeleito com 83% dos votos e deixei o governo com mais de 90% de aprovação. Governei com pouco, porque governei um estado do nordeste brasileiro com muita pobreza e botei o foco naqueles que mais precisam. Então, aprendi a fazer mais com menos. Agora, ao lado da Marina Silva, eu quero representar a sua indignação, o seu sonho, o seu desejo de ter um Brasil melhor. Não vamos desistir do Brasil! É aqui onde nós vamos criar nossos filhos, é aqui onde nós temos que criar uma sociedade mais justa. Para isso, é preciso ter a coragem de mudar. De fazer diferente! O Brasil tem jeito e vamos juntos!”
Não fique parado no tempo. O futuro é nosso!
Fagner Barbosa, jornalista, foi social media na campanha de Eduardo Campos à Presidência da República em 2014.