Uma greve não só por melhores salários, mas por direitos. Assim definem os grevistas da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), o movimento em curso na empresa, que completa duas semanas. Além das reivindicações de praxe no funcionalismo, como reajuste salarial e de benefícios acima da inflação, a paralisação segue em favor da comunicação pública de qualidade, afirmam os dirigentes do movimento.
Mas tão rara quanto uma greve de jornalistas, falta disposição da diretoria da empresa em negociar um acordo mais vantajoso para os trabalhadores. Nem mesmo dez rodadas de negociações, uma semana de estado de greve e mais de dez dias com setores da emissora completamente parados foram capazes de resolver o impasse, que agora deverá ser intermediado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST).
A Justiça foi acionada pela diretoria da EBC, que entrou com uma ação de dissídio na semana passada após os trabalhadores rejeitarem a última proposta feita pela empresa para encerrar a greve. Trabalhadores e patrões começaram a se reunir no tribunal em Brasília no dia 19 de novembro.
Além da intransigência nas negociações, a empresa tem lançado mão de artifícios como o assédio moral e a coação de funcionários para tentar esvaziar o movimento.
O presidente da EBC, Nelson Breve, chegou a afirmar que o impasse era “porque os empregados queriam entrar de bermuda e chinelo na empresa”, omitindo os reais motivos da greve. Sob seu comando, a empresa também emitiu comunicados de ameaça a seus empregados, tarde da noite, e chegou a conseguir uma liminar do Tribunal Superior do Trabalho para assegurar a volta de 60% dos trabalhadores.
Os sindicatos, que ainda não foram notificados da decisão, denunciam inúmeras ilegalidades na greve. Flagraram estagiários dobrando o turno, escalas extensas de empregados terceirizados, com menos de 11 horas de descanso e muitas ameaças dos chefes imediatos, que chegaram a obrigar trabalhadores que não aderiram à paralisação a assinar a folha de ponto na sala deles, além de vigiar constantemente a manifestação.
Apesar das tentativas de esvaziamento, a mobilização tem crescido para além dos estúdios e corredores da EBC. Desde o início da greve, deputados, senadores, vereadores e entidades da sociedade civil têm se manifestado em favor da paralisação e das reivindicações dos trabalhadores. Até mesmo membros do Conselho Curador da própria EBC reconheceram, e louvaram, a legitimidade do que é reclamado pelos funcionários.