
A representatividade política é, de fato, uma ferramenta poderosa de inclusão e transformação social, sobretudo para grupos historicamente marginalizados, tais como a juventude negra brasileira. A partir da entrada de jovens negros em espaços políticos, novas searas e temas são abertos, permitindo pautas e políticas que atendam às necessidades e desejos desse grupo populacional. Neste sentido, este trabalho abordará os dilemas e as conquistas daquilo que é alcançado e o que é perdido, e por que a inclusão é tão importante para as searas da política e da sociedade.
Atualmente, 56,1% da população brasileira são de negros, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No entanto, essa proporção de pessoas negras não é refletida nas esferas de poder político porcento. Em 2020, uma sondagem feita pelo Tribunal Superior Eleitoral sobre os candidatos a prefeito mostrou que 4% deles eram jovens negros e pardos, de 18 a 29 anos. O número oficial de deputados direitos eleitos da Câmara dos Deputados em 2022 era 229, onde 159 não se identificam como pretos ou pardos. Portanto, menos de 25% dos deputados eleitos se identificam direitos ou pardos.
Esse desequilíbrio limita a pluralidade de perspectivas e restringe a formulação de políticas inclusivas. O impacto da ausência de jovens negros na política é profundo, afetando decisões sobre educação, segurança pública e emprego, áreas em que a juventude negra enfrenta as maiores desigualdades.
Entre os desafios que os jovens negros enfrentam ao entrar na política, um dos mais importantes sem dúvida é a barreira económica. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), os jovens negros entre 18 e 24 anos representam 67% dos desempregados no Brasil. As dificuldades financeiras reduzem o acesso a atividades de formação e impedem-nos de se envolver plenamente na política, especialmente num cenário em que as campanhas eleitorais requerem recursos significativos.
Outro grande obstáculo é o racismo estrutural, que limita as oportunidades e reforça os estereótipos negativos. Uma pesquisa da Datafolha mostra que 75% dos brasileiros percebem a existência de racismo em sua sociedade e 59% dos jovens negros afirmam ter sofrido preconceito racial. Este contexto faz com que muitos jovens se afastem da política, porque não se sentem representados e enfrentam hostilidade quando tentam ocupar áreas de poder.
A presença de jovens negros na política tem impacto direto na formulação de políticas públicas mais justas. Estudos mostram que os líderes negros são mais propensos a propor leis que visam a igualdade social e a protecção dos direitos humanos. Além disso, trazem uma sensibilidade única para questões como a educação inclusiva, a segurança comunitária e a saúde mental, defendendo um ambiente democrático mais diversificado e equitativo. Como exemplo prático, a cidade de São Paulo implementou a política municipal de igualdade racial em 2021, com grande participação de jovens lideranças negras. Iniciativas como esta visam promover a igualdade de oportunidades e combater o racismo, através de políticas positivas que incluam os jovens e reflitam as suas reivindicações. No Brasil, alguns jovens negros se destacaram na política e inspiraram novos líderes. Um exemplo notável é o de Marielle Franco, vereadora da cidade do Rio de Janeiro, que, já jovem, lutou pela igualdade racial e social antes de seu assassinato em 2018. Outro exemplo é o de Talíria Petrone,que, na Câmara dos Deputados , continua a promover políticas destinadas às comunidades negras e suburbanas.
Para garantir uma sociedade mais justa e democrática, é fundamental que mais jovens negros ocupem espaços políticos e que existam políticas públicas que incentivem essa representação. Evidências concretas revelam uma necessidade urgente de maior envolvimento e apoio dos jovens negros na política. Quando estes jovens têm a oportunidade de participar nas decisões que moldam o país, todos beneficiam de uma sociedade mais inclusiva e igualitária. É portanto fundamental implementar políticas e incentivos para que a juventude negra tenha voz e lugar na política, favorecendo assim um futuro mais igualitário e socialmente transformado.
*As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião da JSB.