A participação das mulheres pretas no mercado de trabalho ainda se expressa de modo consternador. Conforme a pensadora contemporânea Carla Akotirene, […] para a mulher negra inexiste o tempo de parar de trabalhar, vide o racismo estrutural, que as mantém fora do mercado de trabalho formal, atravessando diversas idades no não-emprego, expropriadas; e de geração infantil, porque deve fazer o que ambos marido e patroa querem, como se faltasse vontade própria e o que é pior, capacidade crítica. A exploração capitalista, patriarcal e racista oprime mulheres em seu cotidiano e no acesso ao mercado de trabalho.
Destarte, as mulheres negras têm enfrentado grandes desafios em sua inserção no mercado de trabalho formal. Apesar do aumento do índice de mulheres com qualificação e competência para apoderar as vagas em processos seletivos, os reflexos da sociedade reverberam na ocupação dos espaços. Embora existam avanços, hoje elas continuam em posições de menor notoriedade na hierarquia profissional. Haja vista a sua inserção majoritária em subempregos, trabalhos de baixa remuneração ou serviços domésticos.
Conforme levantamento divulgado pelo, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mulheres receberam, em média, 77,7% do montante auferido pelos homens. A desigualdade atinge proporções maiores nas funções e nos cargos que asseguram os maiores ganhos. Os dados também publicados pelo Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) reiteram, através do levantamento de que 41,5% das mulheres negras estavam subutilizadas no mercado de trabalho no fim de 2021. Para efeito de comparação, a subutilização entre os homens brancos era de cerca de 18% no mesmo período. Ao inserir demarcadores sociais, verifica-se que essas desigualdades estão associadas, não apenas no critério de empregabilidade, mas principalmente, à busca pelo reconhecimento e acesso a direitos básicos, acesso a políticas públicas, dentre outras garantias prevista constitucionalmente.
A sociedade capitalista tende ainda a rotular um prazo de serventia a essas mulheres, compreendendo que elas são “valorizadas” a partir da sua força de trabalho. A assistente social e escritora Carla Akotirene (2019), pontua que, “A interseccionalidade pode ajudar a enxergarmos as opressões, combatê-las, reconhecendo que algumas opressões são mais dolorosas. Às vezes oprimimos, mas às vezes somos opressores”.
Ao novamente estabelecermos demarcadores geracionais, raciais e socioeconômicos encontramos outra barreira que é a dificuldade no acesso de mulheres jovens e ao indicar a intersecção de mulheres que são mães o mercado de trabalho se apresenta de maneira mais perversa. Em concordância com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Outro indicador, o nível de ocupação entre as mulheres que têm filhos com até 3 anos é de 54,6%, abaixo dos 67,2% daquelas que não têm. A situação é exatamente contrária ao compararmos com homens. Aqueles que vivem com crianças até 3 anos registraram nível de ocupação de 89,2%, superior aos 83,4% dos que não têm filhos nessa idade.
É importante que o Estado compreenda e estabeleça não só agendas, mas políticas públicas que impactem diretamente na vida das mulheres pretas que estão, de maneira majoritária, sem a garantia de direitos básicos no mundo do trabalho, inseridas por muitas vezes em trabalho informal e precarizado. Sendo vítimas de inúmeras violências institucionalizadas que devem ser pautadas de forma ininterrupta.
O dia 25 de julho se aproxima e nele é comemorado o Dia Internacional da Mulher Negra, Latina e Caribenha. Em nosso país está data, faz referência a uma liderança quilombola, Tereza de Benguela, que é um exemplo de força e resistência para as inúmeras mulheres que estão inseridas nas condições mencionadas neste artigo. É importante criarmos a compreensão de que esta é uma data de luta e resistência. Para além de eventos e proposições que se tenham efetivações e minimizações de opressões na vida de mulheres pretas que vivem os reflexos e mazelas da colonização, assim como eu.
*As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião da JSB.