Algo está mudando na sociedade não é mesmo? O que precisamos entender é o que muda? E para onde essas mudanças vão nos levar? Para tanto tenho lido, refletido, acompanhado o posicionamento de sociólogos, cientistas políticos, jornalistas e aqueles que se debruçam para compreender os acontecimentos dentro da nossa sociedade.
Como estudante de Sociologia, acompanhei e tenho ido às manifestações, certo de que o movimento que toma conta das principais cidades do país é algo histórico.
O movimento que iniciou e capitaliza aquela que foi a principal bandeira das manifestações o (MPL) Movimento Passe Livre, tem nas suas posições uma luta mais do que justa, fundamentada em números e na realidade daqueles que se utilizam dos transportes precários e caros nas cidades brasileiras, a luta pela redução das tarifas mobilizou uma parcela daqueles já conhecidos movimentos políticos e sociais, e dentre eles alguns partidos que sempre foram favoráveis as causas populares, acostumados a tomar pancadas, bombas de gás, balas de borracha e toda a truculência já conhecida e que ficou mais evidente na ultima quinta feira 13/06, na Rua da Consolação, isso ainda é resquício de uma ditadura que permanece viva nos pequenos detalhes da nossa sociedade, mas será que são só esses os resquícios?
Um país com um pouco mais de 25 anos de democracia, tem em suas entranhas muitas posições simpáticas as causas conservadoras e de culto a ação dos militares, acompanhar as manifestações nestes dias é algo que contagia, arrepia e que sempre lutamos, para que o povo assumisse o papel de protagonista nas lutas sociais e na busca pela sua emancipação.
Mas como todo movimento de massa, algo que começa com uma reivindicação justa pela redução das passagens, toma dimensões que não imaginávamos e outras bandeiras tomam conta das manifestações, resultados da deficiência no processo representativo dos nossos parlamentares, que vivem numa ilha da fantasia, isso mesmo digo ilha da fantasia, por que acreditam que a política se faz só com o dinheiro, comprando votos, alugando legendas e se aproveitando da até então passividade do povo brasileiro, que agora clama que o “Gigante Acordou”, pedindo por uma saúde de qualidade, uma educação de qualidade, transporte de qualidade, segurança e contra a impunidade.
Assisti nesses dias as pessoas repudiarem partidos e movimentos que iniciaram essas manifestações, é um absurdo o que fazem, dizendo que o movimento não tem partido, digo-lhes o movimento é um partido, tomou partido, mas antes de tudo precisa tomar o partido do povo, povo que sofre nos SUS, nas escolas públicas e na exclusão social causada pela falta de acesso ao transporte caro e sem qualidade, o que vi nesses dias e louvo, é a participação de todos, mas não posso ficar calado ao ver pessoas gritando contra aqueles que saíram da condição de miserabilidade em que viviam, atendidos por programas de transferência de renda, a repressão aos partidos identificados com a causa popular, entendo que essas manifestações precisam ter um caráter progressista e que sirva ao conjunto da sociedade, não querem caracterizá-la como partidária e penso que nenhum partido, sindicato ou movimento possa mais se apropriar dela e isso basta para que ela possa incluir a todos e não excluir como tenho visto em alguns momentos, um processo não de despartidarização ao contrario é um processo de despolitização extremamente perigoso no meu entender, pois como já disse somos uma democracia jovem e com instrumentos de representação a serem aperfeiçoados e sim precisamos melhorar e muito, acabar com o feudalismo político, com os fidalgos que infestam o nosso congresso, renovar é preciso, aperfeiçoar os mecanismos é preciso, os partidos são instrumentos a serem aperfeiçoados e isso acontece com a participação e não com a exclusão deles, quem deseja excluir representação popular é a ditadura não o povo.
Os partidos e movimentos sociais precisam olhar pro seu interior e reavaliar o porquê é rechaçado nas manifestações, seria por que não representam mais o dialogo com a sociedade, ou seria por que se deixaram cooptar pelos privilégios do poder? E por que a maioria ainda não se posicionou, salvo algumas juventudes partidárias?
Esse movimento tem que ter posição, e precisa ser reafirmada e precisa estabelecer diálogos com os representantes que nós elegemos, e se não gostamos deles, achamos que não nos representam direito que os troquemos nas eleições, essa luta precisa sim ter uma pauta de reivindicações definida e o respeito às instituições que com lagrimas e sangue conquistamos precisa ser preservado.
Não somos massa de manobra, muito menos rebeldes sem causa !!!
Autor: Dalmo Viana