As eleições legislativas, realizadas neste último fim de semana na Argentina para a renovação de metade da Câmara e um terço do Senado, mostraram que o Frente para a Vitória (FpV, aliança governista que sustenta o governo de Cristina Kirchner) se mantem como a principal força política do país, mas apontaram também para o que parece ser o fim da hegemonia do kirchnerismo.
Após obter 32% dos votos, a FpV segue com o controle do Congresso. Ainda que as oposições tenham vencido nas principais províncias, a aliança kirchnerista passou de 111 para 116 deputados. Somadas as cadeiras dos aliados, a legenda de Cristina é a única capaz de formar quórum nas votações em ambas as casas.
A grande novidade, no entanto, foi a vitória de Sérgio Massa – intendente do munícipio de Tigre, em Buenos Aires, peronista dissidente e candidato pela Frente Renovadora –, que triunfou na província de Buenos Aires, a mais importante do país e a que concentra o maior número de eleitores. Massa venceu o candidato kirchnerista Martín Insaurralde por uma diferença superior a 10 pontos e consolidou-se como provável candidato à Casa Rosada em 2015.
O cenário que se desenha para 2015 na Argentina é, então, dos mais complexos. O apoio à gestão de Cristina Kirchner tem sofrido um importante declínio, mas a oposição no país se mostra incapaz de organizar-se em uma única alternativa. Divida em grupos que vão desde o direitista PRO (Proposta Republicana), partido do prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, até os socialistas liderados por Hermes Binner (Frente Progressista Cívica e Social), os partidos de oposição acumularam importantes vitórias locais, mas que, isoladas, são incapazes de mudar a correlação de forças no jogo político argentino. Como resultado de sua fragmentação, hoje não poderiam impedir que o candidato de Cristina estivesse no segundo turno das eleições presidenciais.
Para o kirchnerismo, o grande desafio é o de reconstruir a hegemonia política que possibilitou a implementação de um projeto nacional e progressista no país e recuperar a legitimidade que apenas o apoio popular é capaz de garantir.
*Fabiana Oliveira é bacharel em Relações Internacionais, mestranda no programa de Integração da América Latina e integrante do Núcleo de Base Internacionalista do PSB/SP
Autor: Fabiana Oliveira