Pontes indestrutíveis?
Só que não!
A vida nos ensina que nada é pra sempre, apesar de acreditarmos, em alguns momentos, que as pontes que construímos ou conhecemos há muito tempo são indestrutíveis. Assim também é com as alianças políticas sólidas e tradicionais que estamos acostumados a conceber sem perceber a dinâmica dos fatores da política. Dinâmica, ideologias, pragmatismo, pessoas e organizações. E uma ponte indestrutível que ruiu dada a ação de muitos fatores foi a aliança ideológica entre PSB e PT.
O distanciamento entre o nosso partido e o Partido dos Trabalhadores pode ter sido visto por muitos como busca por poder frente ao processo eleitoral que se aproximava. Mas nosso rompimento se deu muito antes do mesmo iniciar. Prova disto é que em 2012 as disputas das principais capitais brasileiras foram contra o PT, ou melhor dizendo, o PT na época se colocando contrário às nossas candidaturas, muito por buscar constantemente o protagonismo nos projetos construídos conjuntamente, não aceitando que o Partido Socialista Brasileiro colocasse seus nomes, mesmo que em diversos momentos mais qualificados, para encabeçar e representar projetos que teoricamente vinham sendo construídos em consonância há tantos anos. Também em 2013 o nosso partido, em sinal de independência, apresentou a candidatura do deputado Júlio Delgado à presidência da Câmara, por não aceitar a continuidade do PMDB no comando do parlamento, e já fazendo uma série de críticas às políticas do governo, sempre de maneira respeitosa e coerente com a nossa história.
Um exemplo de crítica levantada foi à aproximação do governo com as forças mais conservadoras deste país, como as alianças com o PMDB e PP. O PT, ao mesmo tempo em que crítica a rede globo e se coloca como partido da esquerda nacional (inclusive como o único partido capaz de representar de fato a esquerda no governo), despreza as alianças com outros partidos de esquerda e faz alianças a nível nacional com o partido originário da Arena (PP), assim como levanta a problemática de que temos atualmente o congresso mais conservador da história, mas que ajudou a criar, manter, e hoje fortalece os partidos da bancada fundamentalista, como o PR e PRB, deixando comissões como a de Direitos Humanos caírem na mão de deputados como Marco Feliciano, conhecido por desrespeitar os direitos já adquiridos e as lutas por direitos dos movimentos sociais.
Tendo em vista o distanciamento do Partido dos Trabalhadores do nosso projeto, tendo em vista o distanciamento do mesmo de suas alianças de esquerda, entre diversos fatores, tomamos a decisão de sair do governo federal e, em consonância com praticamente 100% da militância do nosso partido, apresentar a candidatura do nosso líder, o à época governador de Pernambuco em segundo mandato e um dos maiores gestores do nosso país, reconhecido inclusive pelo governo petista, Eduardo Campos, para presidente da república. Porém, mesmo antes da oficialização da nossa candidatura, o Partido dos Trabalhadores já nos atacava de forma covarde, rebaixando o debate, ofendendo pessoalmente e cobrando nossa submissão, como se fossemos seus filhos ou devedores, como se estivéssemos prejudicando a esquerda, em um jogo de mocinho e bandido, que coloca quem não está com o PT ao lado do PSDB, que não reconhece alternativas, como se não tivéssemos o direito de apresentar nosso projeto, já distante do projeto do PT, mas ainda muito distante do projeto do PSDB.
E como se já não bastassem os ataques contra Eduardo, o PSB e sua candidatura em vida, após sua morte, enquanto os líderes do partido declaravam que Eduardo (já impossibilitado de retirar o poder de suas mãos) era uma das maiores promessas políticas do país e reconheciam o grande político e gestor que era, a militância do PT continuava os ataques ao nosso líder, como forma de desgastar Marina Silva, substituta de Eduardo na corrida presidencial. Ataques e calúnias de todos os tipos, a mão pesada do desespero de quem sentia que poderia perder a corrida eleitoral. Assim, o PT ganhou as eleições, mas explodiu todas as pontes!
Eduardo, Marina e o PSB colocaram claramente durante a pré-eleição e a eleição que era necessária a mudança, a rotatividade de poder, a oxigenação do governo federal. Obviamente que não tínhamos o mesmo projeto que nenhuma candidatura, tínhamos o nosso e continuamos o defendendo como melhor alternativa possível para o Brasil. Porém, nosso projeto não foi para o segundo turno (por uma série de fatores), e como linha de MUDANÇA e CORAGEM para mudar, considerando que o PT já não pratica mais o governo de esquerda que se propôs, considerando que ambos os polos da política nacional hoje pouco se diferem, mas que o Brasil necessitava – e ainda necessita – de uma mudança urgente, o PSB decidiu apoiar a candidatura que se apresentava como alternativa ao governo do PT, o PSB decidiu arriscar, mesmo que a candidatura de Aécio Neves tivesse uma série de divergências com o pensamento histórico do PSB, afinal, a candidatura do PT ainda tinha algum alinhamento? E o PSB, poderia se dar ao luxo de manter-se neutro naquele momento após ter sido a terceira via mais expressiva da última década em eleições presidenciais ?
Considero que o nosso afastamento do PT veio no momento certo e dados os recentes fatos, nos encaminhamos para uma distância ainda maior. E os passos dados não são nossos. O governo Dilma, com menos de dois meses, já vem fazendo uma série de contrassensos ideológicos, além de explicitar de fato e definitivamente a hipocrisia do Partido dos Trabalhadores e da sua base conservadora, que hoje vai na contramão de todos os seus compromissos de campanha, ao mesmo tempo que age em consonância com o que mais apontou e atacou nas candidaturas de oposição, traindo inclusive a militância que o defendeu e manteve no governo federal.
É preciso este afastamento, é uma questão de honra e de visão política, é, antes de tudo, a necessidade ideológica de um projeto novo de país. Este afastamento, porém, não pode ser visto como uma aproximação automática com o PSDB, e muito menos que seja de fato. É importante que sejamos o PSB, que nos diferenciemos destas duas forças políticas que em sua disputa já atrasam o desenvolvimento do Brasil. É momento de pensar em nosso partido, de reforçar nossa militância e construir nosso projeto de país, sem desistir de lutar por ele. Saímos desse processo de afastamento maiores, e não cabemos mais embaixo da asa de ninguém. Sabemos que somos capazes de pensar um projeto novo, nosso, do povo brasileiro e para o povo brasileiro, sem a influência de quem tanto combatemos e de quem tanto lutamos para nos diferenciar. E, se me permitem, vou utilizar a última mensagem de nosso presidente antes de nos deixar, mas modifica-la para nosso contexto. Nós não desistimos do Brasil, e não podemos desistir do PSB.
Por Tony Sechi, Secretário Nacional da JSB.