O governo chinês adota medidas em várias frentes para desafiar os efeitos da crise financeira internacional com um redirecionamento de seus interesses e uma profunda reforma de suas estrutura, em um país onde a indústria pesada esta superdimensionada.
Uma explicação detalhada sobre esses assuntos foi oferecida à Prensa Latina por Ding Yifan, vice-diretor do Instituto do Desenvolvimento Mundial (IWB, em sua sigla em inglês), que abordou aspectos do desenvolvimento econômico do gigante asiático, sua atualidade, perspectivas e desafios.
O acadêmico desse centro de pesquisa de desenvolvimento ligado ao Conselho de Estado, explicou que embora a taxa de crescimento da China tenha caído de 10% para 7% a 8%, seu desenvolvimento é robusto e tem melhor comportamento que outras economias emergentes como a Índia, o Brasil e a Rússia.
Em relação a isso, disse que desde junho, o crescimento nacional começou a avançar e que os especialistas consideram que no último trimestre de 2013 se refletirá uma recuperação da economia.
Trata-se de um crescimento mais lento, mas Ding o comparou com o que aconteceu com outros países, como na Índia, que em 2010 tinha uma taxa de 10% e em 2012 teve uma acentuada queda para 1%.
Em entrevista concedida na sede do Instituto, o vice-diretor explicou que pela demanda de produtos chineses a partir dos Estados Unidos e Europa e, com sua diminuição pela crise mundial, o crescimento nacional foi mais lento.
Diante dessa situação, disse, o governo chinês tomou várias medidas, tratando de corrigir a situação e com a intenção de substituir a demanda externa com uma maior demanda interna.
Entre essas ações, Ding citou as destinadas a expandir a demanda interna em dois aspectos, o do consumo e, o principal, por meio de investimentos nas regiões mais atrasadas do país.
Para facilitar o consumo, as autoridades oferecem subsídios a uma grande variedade de produtos, fundamentalmente nas regiões menos favorecidas como as do ocidente e do centro, como eletrônicos, veículos e outros bens.
Ding disse que o governo também faz grandes investimentos e estimula a melhoria da ação em setores como o do meio ambiente, que sofreu o impacto de um rápido crescimento e se reflete em altos índices de contaminação.
Agregou que, assim mesmo, se estimula as telecomunicações, em especial a instalação nessas áreas de banda larga, serviços de internet e celulares e conexão à rede por meio de smartphones, o que significa estabelecer um novo modo de negócios neste importante setor da economia.
Na China, lembrou, mais de 400 milhões de pessoas têm conexão com a internet por meio de seus telefones celulares ou smartphones.
Desafios
Segundo Ding, o principal desafio da economia chinesa está na bolha do setor de bens imóveis, e sobre isso lembra que, devido à crise econômica de 2008 e 2009, o governo decidiu estimular esse mercado e destinou grande quantidade de dinheiro a essa área.
Esses recursos foram dirigidos a grandes projetos em infraestrutura e ao mercado de moradias, que se converteu em um grande atrativo para os chineses, que vêm um maior proveito em comprar apartamentos ou casas, porque seus investimentos não são recompensados com juros bancários de forma lucrativa.
Os chineses têm hoje mais dinheiro, são mais ricos, assinalou Ding, que informou que as cadernetas de poupança na China duplicaram em cinco anos, enquanto os juros se mantiveram em várias ocasiões abaixo dos índices de inflação, o que significa zero lucro para os poupadores, nenhum benefício.
Embora as autoridades tenham tomado várias medidas para enfrentar essa situação, as mesmas não foram suficientes para parar essa bolha nas grandes cidades e, por esse motivo, num recente discurso o premiê Li Kegiang anunciou que tratará de liberalizar o mercado financeiro.
O vice-presidente do IWB apontou que, se as pessoas vão ao mercado imobiliário é porque não têm outro caminho para que seu dinheiro tenha dividendos, o que mudará se foram abertas outras opções, e essa bolha, seguramente, desaparecerá.
Outro desafio apontado pelo especialista é o da reforma da estrutura econômica chinesa, onde existem muitas indústrias pesadas, que colocaram o país como o principal produtor mundial de aço e cimento, neste último caso com a fabricação de mais da metade do produto do mundo inteiro.
América Latina
Outro aspecto abordado em seu encontro com a Prensa Latina foi o dos vínculos com a América Latina.
Sobre isso, Ding afirmou que a economia chinesa é essencial para a América Latina, porque desde o início do século 21, as importações de seus produtos para o país asiático foram uma importante mola propulsora para a economia dos estados latino-americanos.
A China precisava muito de recursos abundantes no subcontinente, em particular no Brasil, país rico em petróleo, madeiras, carvão e outras matérias primas, que o gigante asiático adquiriu, o que por sua vez provocou um aumento no preço dessas mercadorias. Isso quer dizer que as importações chinesas de produtos latino-americanos beneficiaram essas nações também pelo aumento nos preços dessas mercadorias, precisamente devido ao aumento da demanda.
Entretanto, lembrou que desde o ano passado as necessidades da China diminuíram e afetaram o mercado de gás, petróleo, minérios, ouro e outros tantos que elas tiveram um efeito em países exportadores de recursos naturais, como os latino-americanos.
Não obstante, o especialista destaca que a China está diversificando e incrementando seus investimentos no exterior, em especial na América Latina.
Como exemplo, citou a participação chinesa em projetos de infraestrutura como a construção de uma rede ferroviárias que unirá a Argentina, o Brasil e o Chile, enquanto em outras nações se investe na indústria de manufatura. Isso fará com que os latino-americanos sejam mais competitivos no futuro, afirmou.