Ninguém fica para semente. O comandante guerrilheiro Fidel Castro não foge à regra. Uma hora dessas ele fechará os olhos para sempre e dormirá o sono dos heróis da Revolução Cubana, ao lado de Ernesto Che Guevara, Camilo Cienfuegos e tantos outros. A vida de Fidel, que se segura por um fio de seda, o mesmo com o qual é tecido o destino desta nação que se levantou do domínio mais aviltante, nos tempos em que os EUA tratavam Cuba como o quintal sujo e pervertido da escória capitalista norte-americana, para a posição de liderança absoluta em áreas como a Saúde e a Educação, marcos que o comunismo fundou em uma das sociedades mais cultas e avançadas da Terra.
Mesmo que Fidel morra hoje, sua missão já estará mais do que cumprida. Líder inconteste de gerações inteiras de revolucionários, desde a Sierra Maestra ao Bico do Papagaio, das ruas de Santa Luzia às avenidas paulistanas, cariocas, chilenas, de Buenos Aires, Montevidéu, Caracas, Berlim, Paris e tantas outras cidades onde se luta contra a opressão do capital internacional, o intelectual que o habita, ante o militar rigoroso, faz de Fidel Castro uma daquelas lendas que jamais deixarão de existir na memória humana. O mito que o eterniza está maior do que a frágil silhueta do ancião sorridente, com o largo chapéu de palha, em um de seus longos passeios pela bela Havana. Fidel é querido, respeitado, honrado por seus conterrâneos.
E goza de boa saúde, ao contrário do que afirmam os aliados do Tio Sam na América Latina, seja o tal membro da Academia Brasileira de Letras com uma coluna no principal diário conservador carioca, ou seu boquirroto equivalente venezuelano, ambos especializados em predizer a morte alheia que não se concretiza. Longe do mau agouro destes oráculos de aluguel, bem pagos pela companhia central de inteligência do império, Fidel segue adiante com a vida de quem percorreu cada palmo da Ilha na qual plantou a semente da utopia. Que floresce. E se internacionaliza. A crise do capitalismo mundial prova, dia após dia, que outra realidade é necessária, sem a ganância, o egoísmo e a estupidez que marcaram o desenvolvimento dos povos ocidentais até hoje, sob a lança e os canhões do laissez-faire.
Fidel talvez não veja o dia em que, pela vontade da imensa maioria humana, a derrocada dos meios de sustentação do capitalismo dará lugar à solidariedade entre os povos e o fim de males como a fome, o desabrigo, a discriminação racial, sexual, de classes. Na verdade, nem precisa estar aqui para ver tudo isso se realizar. Quando o último sopro se esvair e o corpo sem vida do homem restar para a derradeira viagem de volta ao pó, a luta de toda uma vida estará imortalizada no exemplo, na biografia, na História. Os sibilos dessa gente que ainda se dobra aos interesses de uns poucos, poderosos somente na medida de suas posses, então dará lugar ao silêncio solene que antecede os brados de independência nas gargantas da maioria, seja nas urnas ou a ocupar as praças, os campos e as cidades.
Talvez na semana que vem, ou na outra, um desses arautos da mediocridade acerte no prognóstico e anuncie a morte do líder cubano. Terá apenas informado aos seus leitores que morre o homem, fica o mito. E será tão imenso o espectro do barbudo com um puro entre os dentes e o fuzil de combate a atormentar o sono revolto dos injustos, que lhes será mais prático abreviarem a estada e depor as armas, sem demora, para que o novo tempo nasça em paz.