A paralisação das universidades federais, iniciada no dia 17/5, teve como estopim a insatisfação dos professores com os acordos para o plano de carreiras da categoria. Porém, a greve também agregou funcionários e estudantes tornando-se um movimento em defesa da educação e de um novo modelo para a universidade brasileira. Estudantes de todo o país demonstraram apoio aos docentes, ao mesmo tempo em que reivindicavam suas próprias pautas.
Durante o período de greve, somente duas propostas foram apresentadas pelo governo. A última, anunciada no dia 24/7, prevê um aumento entre 25% e 40%, além da redução do número de níveis de carreira de 17 para 13. A negociação foi aceita pela Federação de Sindicatos de Professores de Instituições de Ensino Superior (Proifes) e rejeitada pelo Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) . Em contraproposta enviada pela entidade, a reestruturação da carreira e o reajuste de 4% a cada degrau de progressão são mais urgentes que o aumento de salário. Para o governo, as negociações estão suspensas.
Tal demora por uma solução do governo com os manifestantes vem causando uma perda significativa das aulas, com sérios riscos de comprometer o ano letivo. Passados 118 dias do início do movimento, 13 instituições retomaram as atividades, enquanto 39 permanecem com as aulas paralisadas.
Para o presidente da UNE, Daniel Iliescu, o movimento vem mostrando a importância da organização entre estudantes e trabalhadores. ‘’Essa greve já pode ser considerada a maior da última década na educação, e vem nos mostrando a importância de estarmos organizados, exigindo nossos direitos. A ampliação do orçamento pra assistência estudantil, a construção de mais moradias e restaurantes universitários, a contratação de mais professores e a melhoria no plano de expansão das universidades federais também passa pela valorização do trabalho dos docentes. Os estudantes precisam retornar às aulas e os professores precisam obter respostas concretas para as suas reivindicações’’, contou.
UNE, a greve e os 10% do PIB
A UNE carrega como principal bandeira desse movimento maiores investimentos em educação como 50% do fundo social e dos royalties do Pré-sal e 10% do PIB para o setor. No último dia 26 de junho os estudantes brasileiros alcançaram uma importante vitória nessa direção. Após a grande marcha dos estudantes, a comissão especial da câmara dos deputados aprovou o relatório do PNE com meta de investimento em educação de 10% do PIB. No dia 22 de agosto, em uma reunião com a UNE, a presidente Dilma Rousseff acenou com a possibilidade de destinar os royalties do Pré-sal para atingir a meta do PNE.
Para Iliescu, esses foram passos importantes conquistados durante a greve. ‘’ Com as mobilizações conseguimos avançar na luta pelos 10% do PIB, na luta pela ampliação do orçamento da assistência estudantil. Agora é hora de ampliar esse debate e exigirmos respostas eficazes aos professores para que as aulas retornem com saldo positivo para todos’’, declarou.
Sobre a paralisação
O Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN) divulgou comunicado no último domingo (9/9) informando que a paralisação dos professores das universidades federais está mantida. De acordo com o comando de greve, docentes de pelo menos 17 universidades decidiram em assembleia pela continuidade do movimento. Embora a reafirmação do movimento tenha sido feita pelo Andes, a paralisação parece perder um pouco de força.
Na semana passada, algumas universidades decidiram optar pelo fim da paralisação. Entre elas estão a UnB (Universidade de Brasília), a UFC (Universidade Federal do Ceará), a Unilab (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira), a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), a UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), a UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre) e o campus de Guarulhos da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Segundo Vanderlei Padilha, membro do comando nacional de greve, algumas universidades retornaram devido ao horizonte impreciso da paralisação. ‘’As instituições que retornaram, procederam dessa maneira por suas próprias especificidades, mas não por ter simpatia com a proposta do governo. O que tem mantido a greve até agora em muitas instituições, é a luta pela reabertura da negociação’’, explicou.
Nos dias 11 e 13 de setembro, uma nova rodada de assembleias será realizada para definir os rumos definitivos da paralisação.